sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Anticultura e anticivilização


1969. Brasil vivia os anos de chumbo da Ditadura Militar. Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam exilados. Restava a Gal Costa honrar o movimento tropicalista. E ela o fez. Em 1969, a então jovem baiana gravou o álbum Gal. O mais ousado de sua carreira.

Ela deixou de lado o canto suave da bossa nova e explodiu no vocal. O disco é cheio de psicodelia. O baixo é poderoso, a guitarra picada de Lanny Gordin é cheia de arranjos sujos. O vocal de Gal Costa é poderosíssimo, cheio de gritos potentes.

Algumas músicas, como Com Pedro, Com Medo e Objeto Sim, Objeto Não, viraram hinos hippies nacionais, à altura dos grandes hits de Jimi Hendrix e Janis Joplin. No mesmo ano estes dois gigantes protagonizavam o lendário Woodstock.

Os gritos fortes de Gal nesta fase é um dos argumentos da teoria do cineasta Glauber Rocha. Ele dizia que as cantoras brasileiras (Gal, Rita Lee, Elis Regina etc.) tiveram que cantar como homens, já que eles cantavam delicadamento, no estilo João Gilberto e Tom Jobim.

No vídeo, a faixa três do álbum, Cultura e Civilização, um louvor à cultura alternativa que surgia nos anos 1960, em detrimento das tradições estabelecidas. Gal se apresentava, nessa época, com a juba de leão proferida nesta canção.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nome aos ratos



Em 1987 o grupo de rock brasileiro Titãs provocava o mundo com a música Nome aos Bois, composta por Toni Bellotto, Nando Reis, Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer – os três últimos atualmente fora da banda. A letra é uma lista com 35 nomes que os Titãs julgam ser inimigos pessoais e antagonistas da liberdade.

A maioria dos listados é ditador ou déspota, pessoas que geram repulsa na maioria de nós. Outros têm uma presença discutível (e é bom que sejam). O produtor musical Ronaldo Bôscoli, que escrevia uma coluna musical no jornal Última Hora, entrou no hall da infâmia quando Arnaldo Antunes foi preso e Ronaldo descreveu a banda como “drogada e corruptora da juventude”

Nome aos Bois faz parte do álbum Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas. Uma insurreição sonora. Com muita bateria eletrônica e samplers nas primeiras músicas. Além de Nome aos Bois, o álbum tem os hits Comida, Diversão, Lugar Nenhum, a faixa que dá nome ao álbum e outros clássicos do Rock Brasil.

O vídeo incorporado acima é o clipe da música feito pelo usuário do Youtube WMVídeo. Uma excelente edição com imagens de todos os nomes citados e no final uma cena antológica em que o General Newton Cruz, irado, manda um repórter provocador calar a boca e desligar “essa porra”, se referindo ao gravador do jornalista.

Abaixo uma breve descrição dos “bois” (tirado da Wikipédia).

Emílio Garrastazu Médici, ex-presidente militar que governou o Brasil durante o período de 1969 a 1974, no auge da ditadura militar.

Josef Stalin: ex-dirigente da extinta URSS (União Soviética), de 1924 a 1953.

Erasmo Dias: coronel reformado do Exército Brasileiro que liderou uma invasão à PUC de São Paulo, em 22 de setembro de 1977, onde uma reunião de estudantes pretendia refundar a UNE.

Francisco Franco: ex-ditador da Espanha, que governou o país de 1936 a 1975 (ano de sua morte), no regime totalitário intitulado franquismo, baseado no fascismo.

Lindomar Castilho: cantor e instrumentista popular, conhecido pelas canções Você é Doida Demais e Eu Amo a Sua Mãe.

Richard Nixon: ex-presidente estadunidense e republicano que governou o país de 1968 a 1974. Ficou conhecido por retirar as tropas americanas do Vietnã, pondo fim à Guerra do Vietnã, e por renunciar após ser flagrado em um escândalo de espionagem contra o Partido Democrata, intitulado Caso Watergate.

Delfim Netto: ministro da Fazenda brasileiro de 1967 a 1974, conhecido por arquitetar um grande crescimento econômico do país na época, o milagre econômico.

Ronaldo Bôscoli: produtor musical brasileiro, que namorou as cantoras Maysa Matarazzo e Elis Regina. Com a última, se casou e teve um filho, o também produtor João Marcelo Bôscoli.

Baby Doc e Papa Doc: Respectivamente, Jean-Claude Duvalier e François Duvalier, filho e pai, ambos ditadores do Haiti de, 1957 a 1985. François governou de 1957 a 1971, quando faleceu e foi sucedido pelo filho, que governou até 1985, ao se exilar na França.

Josef Mengele: médico alemão do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, durante o regime nazista. Era conhecido como o Anjo da Morte.

Doca Street: ex-corretor de ações brasileiro, conhecido por assassinar em 1976 a socialite Angela Diniz, com a qual se envolveu amorosamente.

Nelson Rockefeller: político e empresário americano, vice-presidente dos EUA durante o governo de Gerald Ford, que sucedeu Richard Nixon.

Afanásio Jazadji: ex-deputado estadual paulista, defende ferrenhamente a pena de morte no Brasil.

Dulcídio Wanderley Boschilia: ex-árbitro de futebol brasileiro, conhecido por apitar partidas tensas e por, fora dos gramados, ter simpatia pelo São Paulo Futebol Clube, o que gerava críticas.

Augusto Pinochet:, ex-ditador do Chile durante o período de 1973 a 1989.

Gil Gomes: radialista e repórter policial, famoso por sua voz, seus gestos e sua participação no extinto jornalístico Aqui Agora, do SBT. Gil é citado por sua atuação no rádio, pois a canção é de 1987 e Gil estrearia na TV em 1991.

Reverendo Moon: Sun Myung Moon, religioso coreano que fundou em 1954 a Igreja da Unificação. Se auto-intitulava Salvador da Humanidade, Messias, Verdadeiro Pai, entre outros.

Jim Jones: pastor evangélico estadunidense, fundador da igreja Templo do Povo, que tornou-se sinônimo de grupo suicida após o suicídio em massa ocorrido no dia 18 de novembro de 1978, por envenenamento, em sua isolada coletividade comunitária agrícola chamada Jonestown, localizada na Guiana. Jones foi encontrado morto com um ferimento de bala na cabeça junto a outros 909 corpos.

General Custer: George Armstrong Custer, militar estadunidense conhecido pela dureza e crueldade das batalhas que chefiava na Guerra de Secessão norte-americana.

Flávio Cavalcanti: radialista e comunicador brasileiro, conhecido por sua forma de falar agressiva e por achincalhar artistas em seu programa, com direito a destruir no ar os discos dos mesmos.

Adolf Hitler: ditador alemão, líder do nazismo, que governou entre 1933 e 1945 e foi um dos responsáveis pela Segunda Guerra Mundial. Se auto-intitulava Führer (o Chefe, em alemão).

Borba Gato: bandeirante paulista que, durante a Guerra dos Emboabas, se desentendeu com Manuel Nunes Viana, líder dos forasteiros (emboabas).

Newton Cruz: general reformado do exército brasileiro, que participou de várias polêmicas durante a ditadura militar no Brasil.

Sergio Dourado: corretor de imóveis brasileiro que fez sucesso nos anos 70, ao dominar o mercado imobiliário do Rio de Janeiro.

Idi Amin Dada: ditador de Uganda, país africano, durante o período de 1971 a 1979.

Plínio Correia de Oliveira: político e escritor paulista, fundador da Tradição, Família e Propriedade (TFP), a mais famosa organização católico-tradicionalista do Brasil.

Plínio Salgado: político brasileiro, líder da Ação Integralista Brasileira, partido político de inspiração fascista, durante o governo de Getúlio Vargas. Se exilou na Alemanha em 1938, com o fracasso de uma revolta integralista contra o Estado Novo de Getúlio.

Benito Mussolini: ditador fascista italiano, que governou a Itália de 1922 a 1943. Se auto-intitulava Il Duce (o Chefe, em italiano).

Harry Truman: ex-presidente democrata norte-americano, que governou os EUA de 1945 (ao assumir com a morte de Franklin Roosevelt) a 1952 (fim do segundo mandato, pois foi editada uma medida em que os presidentes norte-americanos poderiam se reeleger apenas uma vez). Ficou conhecido pela doutrina Truman e pelo Plano Marshall.

Ayatollah Ruhollah Khomeini: líder religioso do Irã, que chegou ao poder com a Revolução Iraniana de 1979, que depôs Mohammad Reza Pahlevi, na altura o Xá (imperador) do Irã.

Ronald Reagan: ex-presidente republicano estadunidense, governou o país de 1980 a 1988. Foi um dos expoentes do neoliberalismo, iniciado por ele e continuado por George H. W. Bush (Bush pai).

Mark Chapman: criminoso americano que assassinou o ex-Beatle John Lennon, em 1980. Desde então, encontra-se preso perpetuamente.

Sérgio Paranhos Fleury: ex-delegado do DOPS, que combateu duramente a esquerda durante a ditadura militar.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Roberto Carlos é apresentado ao mundo da música - Áudio raro



Em 1960 Roberto Carlos estava no segundo ano de carreira. Ele se apresentou no programa Clube do Rock, da TV Continental. Ronaldo Bôscoli chamou ao palco Roberto Carlos e Carlos Imperal, a "criatura e o criador".

Roberto recebeu aplausos discretos de meia dúzia de pessoas e cantou Brotinho sem Juízo, cuja a composição é de Imperial, seu "descobridor". Sua performance foi bem afinada, como sempre, e tímida como a de um garoto que começa no mundo da música.

Junto com o grupo Real da Bossa Nova, fez uma apresentação bossa-novista à João Gilberto. Alguns anos depois Roberto Carlos migraria seu estilo para o rock careta da Jovem Guarda e se tornaria um dos músicos mais bem-sucedidos do Brasil.

O arquivo é um áudio raro, de 1960, bem presevardo, que copiei do site Clube do Rei. Nesse ano, talvez só Carlos Imperial imaginava um futuro tão promissor para o jovem que estava no palco.

20 anos do telescópio espacial Hubble

Com tempo de vida útil estimado em 15 anos, o telescópio Hubble completa seu vigésimo aniversário em plena forma, e com muitas descobertas para contar

Até início do século passado, o Universo era limitado à Via Láctea. Tudo o que existia estava enclausurado nesta galáxia, acreditavam os cientistas. Até que nos anos 1920 o astrônomo estadunidense Edwin Hubble descobriu haver outros sistemas estelares. Não somente isso, mas averiguou que nosso Universo está constantemente em expansão. Por esse feito Hubble é considerado o pai da cosmologia moderna. Nada mais justo que batizar o telescópio que seria os olhos da humanidade no espaço com o nome deste gênio.

O engenheiro alemão Hermann Oberth, autor do projeto Die Rakete zu den Planetenraumen (O foguete para os espaços interplanetários), foi o primeiro a idealizar um telescópio espacial, em 1922. Em 1958, o físico americano Lyman Spitzer conseguiu incluir no primeiro programa da agência espacial norte-americana, a recém-criada Nasa, o projeto de um "observatório astronômico orbital". Mais tarde seria o telescópio espacial Hubble (TEH).

A vantagem de um telescópio espacial está na qualidade das imagens captadas e na capacidade de "enxergar" mais longe. A luz das estrelas viaja pelo espaço quase perfeitamente transparente, mas numa fração de segundo antes de chegar aos nossos olhos ela é borrada ao atravessar a atmosfera terrestre. O ar, vapor de água e poeira do nosso planeta eliminam os detalhes cósmicos, da mesma forma que uma neblina atrapalha nossa visão na Terra.

Nos anos 1970 a Nasa, ESA (Agência Espacial Europeia) e profissionais de vários países somaram esforços para a construção do TEH. Os instrumentos foram imaginados de modo que sua substituição no espaço por um astronauta seja muito fácil. Desenvolvido para sofrer reparos e troca de peças para aprimorar sua capacidade, a expectativa de vida útil do Hubble foi estimada em 15 anos. Hoje, completando seu 20º aniversário, a expectativa é de 35 anos.

Em 24 de abril de 1990, o gigante de 13,3 metros e 11 toneladas foi lançado a bordo da nave recuperável Discovery e posto em órbita a 610 quilômetros da superfície terrestre. Seu espelho com área de captação de luz de 2,4 metros iria produzir imagens sete vezes mais nítidas e captaria 50 vezes mais objetos que qualquer observatório terrestre, mesmo com espelho maiores.

A ansiedade pelas primeiras imagens do TEH virou frustração. Os técnicos perceberam um erro mais fino que um fio de cabelo na curvatura do espelho, o que não permitia focar objetos distantes. As imagens eram embaçadas, como a visão de uma pessoa com miopia. Mais uma vez ESA e Nasa se uniram para a missão que corrigiria o defeito. Desenvolveram a Costar, uma lente corretiva que funcionaria como um óculos no Hubble.

Em 1993, a nave espacial Endeavour foi lançada do Cabo Canaveral, Flórida, com sete tripulantes a bordo para eliminar o defeito do Hubble. O reparo custou US$ 3 milhões e foi uma das atividades extra-veiculares mais demoradas da história da astronáutica, 7 horas e 48 minutos. Tal feito demandou o trabalho dos astronautas mais experientes até então, sob o comando do astronauta Richard Covey.

Finalmente as pessoas na Terra podiam ver imagens geradas em sua plenitude. Digo "pessoas", e não cientistas, porque o TEH foi criado com uma política de divulgar seu trabalho para público. Seus dados aprimoraram nossos conhecimentos sobre vida e morte das estrelas, formação de planetas, flagrou o choque do cometa shoemaker-levy 9 com Júpiter. Porém, seu maior legado talvez tenha sido a divulgação da ciência, da beleza de fenômenos cósmicos e a descoberta de quanto o Universo é enorme.